Desodorizantes: Mais do que apenas uma questão de cheiro

O prometido é devido e cá estamos nós, mais uma vez, para trazer o artigo sobre desodorizantes que mencionamos na semana passada.

A verdade é que não tem jeito, sempre que a palavra desodorizante é mencionada, vem a mente, e por óbvios motivos, a luta contra o mau cheiro produzido pelas nossas glândulas sudoríparas.

Mas será que é assim mesmo? Será que o nosso corpo produz naturalmente um cheiro desagradável? Dá para evitar este mau cheiro de forma saudável e sustentável? Pois é, neste artigo vamos tentar esclarecer estas e outras questões relacionadas ao acto de desodorizar.

Muitos de nós associamos o mau cheiro a transpiração, criando até, frequentemente, uma má reputação imputada a este fenómeno físico que na verdade é bem útil para os nossos corpos (muitas vezes associada a uma higiene negligenciada).

A transpiração é a forma que o corpo humano tem de regular a sua temperatura através de um processo denominado termorregulação. O suor tem a função de baixar a nossa temperatura corporal quando ela se encontra extraordinariamente alta. Este processo serve também para a regulação dos fluidos e eletrólitos, bem como para eliminar toxinas do nosso corpo. O suor é naturalmente composto por água, sais minerais e matéria orgânica e não possui um mau cheiro na sua essência.

“Mas então porque cheiramos mal quando suamos?”

Deve ser a pergunta que, possivelmente, surge para alguns leitores.
A verdade é que o suor, quando entra em contacto com as bactérias presentes na nossa pele, resulta em mau cheiro. Portanto, não é o suor em si ou o ato de transpirar que nos faz cheirar mal, como comummente se pensa, e sim o contacto deste suor com as bactérias do nosso corpo. O corpo humano hospeda milhões de bactérias que sobrevivem e multiplicam-se em ambientes úmidos como as axilas, planta dos pés, etc. Quando suamos, estas bactérias metabolizam o suor, formando subprodutos com cheiros e intensos e desagradáveis.

Atualmente, por causa das mudanças climáticas, as temperaturas estão cada vez mais elevadas, o que faz com que o corpo necessite de mais e maior arrefecimento através do processo de transpiração para poder operar de forma funcional e optimizada. Esta é a razão pela qual o consumo adequado de água é essencial para evitar episódios de insolação.

Não suar tem consequências negativas, pois a pessoa pode se tornar intolerante ao calor e a falta de secreção através das glândulas sudoríparas diminui a quantidade de hidratação cutânea. Sem contar que se não suamos, não eliminamos as toxinas através da transpiração, estas voltam ao nosso sistema interno e podemos concordar que isso não é algo que queremos.

Uma vez que já passamos das noções básicas necessárias para entendermos o processo que culmina em usarmos cosméticos, naturais ou não, para nos sentirmos melhor em termos olfativos, é importante darmos o passo seguinte, que é essencialmente distinguir as duas categorias principais destes, que são: os antitranspirantes e os desodorizantes.

consequentemente, ao seu objectivo. Enquanto o antitranspirante, por ter componentes de alumínio e álcool na sua composição, destinam-se essencialmente a impedir a transpiração; os desodorizantes, que não contém alumínio, destinam-se apenas a eliminar o odor ou mascára-lo.

Antitranspirantes

Os antitranspirantes são adstringentes, o que significa que estreitam o diâmetro dos poros, limitando por isso a transpiração e são bactericidas. São extremamente eficientes na prevenção de maus odores, uma vez que, com a sua aplicação, não existe contacto do suor com as bactérias do corpo. Ainda assim, esses cosméticos são polémicos, na medida em que existe uma discussão sobre a sua ligação com o surgimento de cancro de mama e Alzheimer, dividindo a comunidade científica sobre a relação causa e efeito entre o seu uso e a prevalência/surgimento destas doenças. Igualmente, devido a sua grande componente química, este pode causar irritações cutâneas e eczemas bem como alterar a microbiótica das axilas.

Importa salientar que não existem antitranspirantes naturais, existem sim desodorizantes naturais com componentes que ajudam a absorver a humidade derivada da transpiração (como bicarbonato de sódio), mas não a eliminá-la.

Desodorizantes

Existem os feitos de componentes naturais ou orgânicos e os que possuem na sua composição alguns elementos químicos. Para efeitos deste artigos iremos considerar os primeiros, por justaposição aos antitranspirantes.

Os desodorizantes não interferem no processo de transpiração, pois não contém elementos adstringentes na sua composição como o alumínio. Por esta razão, muitas vezes estes têm uma má reputação em termos de eficácia, uma vez apenas tratam da componente do odor, o que constitui problema para algumas pessoas.

Os desodorizantes naturais permitem a personalização dos produtos, adequando o produto a necessidade específica de quem o vai usar, principalmente se for de produção doméstica. Existe também um risco menor de alergias, pois não possui muitos elementos químicos. No entanto, nem tudo são flores no mundo natural. É importante salientar que estes desodorizantes também podem causar alergias às peles mais sensíveis, dependendo da sua composição. Alguns desodorizantes contém parabenos e ftalatos (também presentes nos antitranspirantes), que são considerados desreguladores do nosso sistema endócrino, que por sua vez geram as nossas hormonas, com todos os riscos associados.

Embora não muito populares no mercado moçambicano, existem várias alternativas aos antitranspirantes comerciais tradicionais e muitas vezes até mais baratas. Desde o leite de magnésio que pode ser adquirido em farmácias, passando pelas receitas caseiras populares na world wide web, até aos desodorizantes de cristais. As hipóteses são diversas. Ainda assim, é preciso salientar que uma pessoa que usou antitranspirantes durante toda a sua existência e decide fazer a transição para uma opção mais natural, com certeza irá enfrentar um período de adaptação com alguns desafios, que, na nossa modesta opinião, valem a galinha inteira.

Ainda sobre estas duas formas de lidar com os odores corporais, é necessário avaliar o impacto ambiental tanto de um como de outro. Por um lado, os produtos de higiene pessoal, incluindo desodorizantes, antitranspirantes, perfumes, shampoos, etc, contribuem para a poluição do ar na forma de compostos orgânicos voláteis devido ao uso de fragrâncias. Por outro, a indústria de desodorizantes contribui para o problema global de resíduos plásticos no mundo. Os que se preocupam com o meio ambiente podem optar por produtos sem fragrâncias e sem plástico.

Desodorizantes versus Antitranspirantes:
– Qual o melhor para mim?

Esta é a pergunta de milhões e muito sinceramente acreditamos que é tão subjetiva quanto os valores que cada um de nós carrega consigo.

A verdade é que tanto um como outro são “relativamente” seguros para uso por humanos e a decisão de usar um ou outro deve estar ligada ao maior conforto para o indivíduo, tendo em conta os seus valores, objectivos e atentando sempre a composição dos produtos.

Dito isto e tendo em conta o nosso leque de valores e objectivos em termos de sustentabilidade e harmonia com a natureza, a Naturalíssima advoga pelo uso dos produtos na sua forma mais natural possível, sem descurar dos riscos que também estes podem acarretar.

Esperamos que consiga com este artigo fazer as melhores e mais adequadas escolhas para si e para os seus.

Kanimambo e até ao próximo artigo.

Camila Sequeira e Paco

Fundadora e autora do Naturalíssima.

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