Nos últimos anos tem ocorrido mais conversas sobre a qualidade e proveniência dos cosméticos de uma maneira geral, no entanto, quando duas ou mais pessoas conversam sobre produtos naturais, quer seja advogando por este tipo de cosmético ou nem por isso, podem, na verdade, estar a falar de conceitos totalmente diferentes entre si.
Por esta razão acreditamos que é necessária uma pequena contextualização sobre esta temática da cosmética natural.
A beleza é algo intuitivo e está presente no quotidiano das civilizações mais antigas através da utilização de elementos como o mel, leite, limão, argila e etc para os rituais de beleza. No século XX, com a revolução industrial, a indústria cosmética registou um franco crescimento que se deve ao facto das matérias primas naturais serem de difícil acesso e/ou reprodução, fazendo com que os produtores de cosméticos optassem por matérias sintéticas que garantem maior produção e durabilidade de produtos.
No entanto, mais recentemente tem surgido o interesse em produtos de origem mais natural, não apenas pelo potenciais riscos que os compostos químicos usados nas formulações cosméticas apresentam, veja este artigo sobre os químicos a evitar nos cosméticos, mas também pelo impacto que estes apresentam ao meio ambiente. Por exemplo, nos produtos de limpeza facial são usadas microesferas plásticas, praticamente invisíveis a olho nú, que são libertadas para o ambiente a cada utilização. Neste contexto, o uso de cosméticos mais naturais não se restringe apenas a questão da saúde individual do utilizador, mas também ao impacto ambiental deste, tendo em conta questões como o desmatamento e as mudanças climáticas.
Atualmente estamos mais conscientes da nossa saúde e bem estar do que antes e isto engloba os cosméticos que usamos. Correntes como o luxo empático, que se trata de concentrar os gastos em produtos sustentáveis e o skip – care, que se trata da redução da quantidade de passos e produtos usados na rotina de beleza têm como base a sustentabilidade dos produtos usados, que abarca desde a sua matéria-prima, formulação, formas de produção e embalagem.
Os consumidores atuais, especialmente a Geração Z, concentra as suas aquisições com base em valores éticos que os impulsionam a ser a melhor versão deles mesmos, levando em conta especificidades como tom de pele, idade, condição física, entre outros.
Os cosméticos naturais não são regulamentados
Os cosméticos naturais não são regulamentados na maior parte dos países e por isso a sua definição é bastante subjectiva e ampla. Cada país ou entidade certificadora atribui a sua designação própria baseada em critérios específicos. Existem várias entidades certificadoras (COSMOS, Ecocert, Natrue, etc), na maior parte de origem americana ou europeia e infelizmente nenhuma africana, mesmo tendo em conta que o nosso continente é um dos maiores produtores de matéria-prima para a indústria de cosméticos mundial.
Numa versão lactu sensus, podem ser classificados como sendo naturais todos os produtos que usam cerca de 95% de matérias-primas provenientes de fontes naturais: plantas, animais e minerais. Estas fontes devem ser renováveis e não devem causar danos ao ambiente. Estes produtos podem apresentar uma pequena percentagem de componentes sintetizados, geralmente para garantir a prevenção do surgimento e crescimento de bactérias e estabilizar os componentes naturais, prolongando desta forma o tempo de vida destes produtos
Tendo em conta todos aspectos aqui referenciados, para a comunidade naturalíssima, faz mais sentido abordar-se a questão sob o outro prisma, o de cosméticos sustentáveis. Neste sentido, importa categorizá-los convenientemente para que possamos todos adequar as nossas escolhas aos princípios que nos guiam:
1. Cosméticos naturais certificados
As entidades certificadoras são a maneira de identificar se um cosmético é natural da forma mais fácil. O seu selo garante que os ingredientes, métodos de produção e embalagem de produtos são éticos e ecológicos e garantem:
- Ingredientes de origem natural e rastreável;
- Ausência de perfumes e corantes sintéticos;
- Produtos biodegradáveis de forma eficiente e mais rápida possível;
- Fases de produção realizadas de forma ecológica e sustentável;
- Não testados em animais;
- Testados dermatologicamente em grupos de voluntários e sob supervisão médica.
2. Cosméticos orgânicos
Produtos cuja composição é de 95% de matéria-prima orgânica e não são permitidas modificações dos ingredientes em laboratórios. existem os cosméticos orgânicos e os cosméticos feitos com matérias-primas orgânicas. Os cosméticos orgânicos devem possuir, no mínimo, 95% de matérias-primas certificadas como orgânicas. Os 5% restantes podem ser compostos por água e por outras matérias-primas naturais. A Ecocert segue esses mesmos princípios de definição de um cosmético orgânico. Já os cosméticos feitos com matérias-primas orgânicas devem possuir, no mínimo, 70% e, no máximo, 95% matérias-primas certificadas como orgânicas. Portanto, quando um cosmético é natural, ele não necessariamente é orgânico, porém quando um produto é orgânico ele sempre será natural.
E um cosmético à base de produtos naturais não pode ser considerado natural. O cosmético orgânico possui maior percentagem de matéria-prima orgânica do que o cosmético feito com matéria-prima orgânica.
3. Cosméticos veganos
Produtos produzidos sem nenhuma matéria-prima de origem animal (por exemplo: gelatina, mel, cera de abelha).
Esta classificação também não é regulada e muitas vezes é usada para fins de marketing.
O facto de ser vegano não perfaz o produto natural automaticamente, pois pode conter uma percentagem de compostos sintéticos.
4. Cosméticos livre de crueldade (cruelty free)
Produtos que não foram testados em animais em nenhuma etapa da produção, muitas vezes também com selos oficiais.
Nem todo produto cruelty free é vegano, tendo em conta que pode conter matéria-prima de origem animal, embora não tenha sido testado em animais.
5. Cosméticos biodinâmicos
Produtos orgânicos e naturais que também estão envolvidos com o ciclo natural de sua matéria-prima, como as estações e as etapas de plantio e colheita de plantas da composição.
6. Biocosméticos
Produtos com ingredientes naturais que são tratados em laboratórios sustentáveis.
Que este artigo ajude a toda a comunidade Naturalíssima a fazer escolhas mais conscientes.
Até breve!
Camila Sequeira e Paco
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