Queridos leitores e amigos, tenho uma confissão a fazer: este artigo vem duas semanas atrasado. Não só vem duas semanas atrasado como nem sequer é o artigo programado para este período.
Pois é, aqui vai uma pequena história e eu desde já agradeço que me acompanhem com a promessa de que, no mínimo, terão alguma matéria para reflectir e de bónus poderão ter algum prazer durante a leitura desta peça.
Tudo “recomeça” quando eu, uma esposa, mãe de três seres humanos, filha, trabalhadora e estudante (entre outras coisas) e meu melhor “partner in crime”, mais conhecido por meu esposo, no auge dos nossos sonhos e desejos de deixar um mundo melhor para as nossas futuras gerações (na nossa perspetiva), decidimos relançar o este mesmo blog, que tu, caro(a) companheiro(a) de jornada, está no momento a ler. Para quem não está familiarizado, pode visitar este artigo.
Não entrando em muitos dos detalhes técnicos associados a este evento, a verdade é que, para vos trazer conteúdo de qualidade e de impacto, é envolvido todo um processo acadêmico, técnico e até social. Processo este, que consome algumas horas de alguns dias e que precisam de ser encaixadas nas já insuficientes 24 horas diárias deste casal sonhador.
Ainda que tenhamos muito gosto e acima de tudo um maior propósito neste processo, muitas vezes somos desafiados com a “escassez de tempo e/ou recursos” no dia a dia, tal como aconteceu há duas semanas, quando não conseguimos publicar um artigo com a qualidade desejável para nossa comunidade.
Em termos programáticos, hoje, caros companheiros, estariam a ler um artigo sobre o impacto do alumínio contido nos desodorizantes e antitranspirantes comuns comerciais (prometo que será o próximo). Contudo, ao sentar-me para escrevê-lo, com o pouco tempo que tinha para que a publicação saísse no tempo planificado, dei comigo a pensar nesta correria que tem sido a minha vida e a de muitas mulheres neste tempo moderno e decidi escrever sobre isto. Importa aqui salientar que estou no âmbito do universo feminino pois é com o qual me identifico e realmente conheço com alguma profundidade, porém, tenho em mente e acredito que muitos dos desafios aqui retratados ocorrem também no universo masculino, revestidos de características específicas ao mesmo.
Desde já agradeço, agradeço a vossa companhia e acima de tudo a vossa paciência para juntos embarcarmos nesta reflexão que a Naturalíssima vos propõe.
Cerca de 2/3 da força laboral é composta por mulheres
Na década de 70, menos de ¼ da população feminina mundial trabalhava fora de casa. Atualmente, cerca de 2/3 da força laboral é composta por mulheres e em muitos casos são estas mulheres a única fonte de renda familiar. No presente, fazemos mais do que as gerações de mulheres anteriores faziam, isto é, adicionamos obrigações sem retirarmos mais nada da equação. O problema começa a fazer-se sentir a partir do momento em que as tarefas domésticas/familiares competem com as tarefas profissionais destas mulheres, estendendo-se até ao campo acadêmico, pois muitas destas mulheres, adicionalmente, estudam.
No presente, principalmente nas sociedades africanas e especificamente em Moçambique, espera-se que as mulheres trabalhem como se não tivessem filhos e que façam a gestão das suas famílias e casas como se não tivessem uma carreira. Isto é, a mulher moderna tem que ser boa parceira, boa mãe, ser física e emocionalmente saudável, bonita e arrumada, boa filha e amiga. Adicionalmente também deve ser boa profissional e crescer constantemente, tudo isto em cima de um salto de 15 cm (socorro).
A expectativa de atingir este status de supermulher é o que, muitas vezes esgota a energia física, mental e emocional de muitas mulheres e as direciona para um caminho fadado ao fracasso, frequentemente manifestado por crises de ansiedade, vício no trabalho, stress, depressão e muitos outros aspectos nocivos contemporâneos.
Talvez não se trate sobre o balanço entre a vida pessoal e o trabalho, pois estes não são polos opostos, mas sim partes do mesmo universo que devem e precisam ser conciliadas e que, invariavelmente, irão se desequilibrar e nós temos que fazer as pazes com este facto.
Por causa dos fatores acima descritos, atualmente a carga mental de muitas mulheres é pesada. Só para que saibamos do que estamos a falar, aqui nos referimos a carga mental como sendo a habilidade de saber o que precisa ser feito, quando e como deve ser feito e ainda lembrar de tudo. Estamos aqui a falar de coisas como: saber que o açúcar está a acabar e que deve-se comprar; conhecer os calendários as actividades escolares e extracurriculares das crianças; conhecer e administrar a medicação das crianças e dos mais velhos, etc.
Na verdade, ninguém tem a obrigação de fazer tudo e bem e nem deveriam ser obrigados a tal, pois ninguém tem essa capacidade, humanamente falando. Se é um ser humano, vai sim falhar e assim é que aprendemos.
A supermulher não existe!
Como disse uma vez a Oprah Winfrey: “As mulheres podem ter tudo, mas não tudo ao mesmo tempo”. A supermulher não existe, e ainda bem que não existe. Já imaginaram como seria um mundo aborrecido se não tivéssemos a oportunidade de aprender com os nossos erros? Existem sim mulheres talentosas, trabalhadoras e seres humanos incríveis que a cada dia fazem o seu melhor pelos que a rodeiam e para atingir os seus objectivos e honrar os seus valores. Estas devem ser não só celebradas, mas acima de tudo apoiadas por todos nós.
O que poderia ajudar?
- Mais e melhores políticas governamentais para os pais trabalhadores que permitam uma melhor conjugação da sua produtividade com o acompanhamento da sua vida familiar;
- Sistemas de suporte comunitários: a verdade é que todos nós enfrentamos desafios desta natureza e as comunidades em que estamos inseridos (vizinhos, família, amigos, colegas de trabalho) podem ser um alicerce nas alturas mais difíceis. Só o facto de um vizinho poder tomar conta dos seus filhos enquanto o casal sai para jantar, ou um colega “cobrir” as tuas tarefas do dia para poderes levar o bebé a vacina, faz uma grande diferença positiva;
- Delegação ou terceirização das tarefas possíveis: esta opção não é tão abrangente pois insere em si mesma vários outros desafios de vária ordem. No entanto, sempre que possível, é uma mais valia recorrer-se dela para retirar a responsabilidade de algumas tarefas “complementares” pessoais;
- Planificação e organização – quanto mais pudermos prever e planificar ajuda-nos a alocar melhor os nossos recursos, principalmente no que diz respeito ao tempo e aos recursos financeiros, facilitando a nossa vida.
Bom, depois de ter feito esta pequena grande viagem pelo quotidiano de muitas mulheres gostaria de terminar este artigo com um agradecimento muito especial ao meu esposo, que desde sempre, tem sido o meu porto seguro no que diz respeito a aliviar a minha carga mental diária. Sem ele eu não conseguiria realizar metade das coisas que faço nem alcançar os objetivos que alcancei até agora. Estendo também este agradecimento a todos os homens que fazem da sua missão apoiar as suas esposas incondicionalmente, vocês são jóias preciosas.
Kanimambo e até ao próximo artigo.